Diferente do Ocidente, sempre tão racional, na China as coisas eram, de modo geral, mais sutis. Privilegiavam os sentimentos e é por isso que os jardins possuíam uma energia harmônica, que possibilitavam uma integração com a natureza.Tudo começou na China há 50 séculos, quando o Imperador Shen-Nung dedicou sua vida ao cultivo de ervas curativas. "O Jardineiro Divino", como era conhecido, elaborou 365 medicamentos derivados de 252 plantas, 67 animais e 46 minerais e, para perpetuar suas pesquisas, criou o I Ching, também chamado de Livro das Mutações. Este é um complexo de exposições oraculares, exibido por intermédio de 64 conjuntos de 6 linhas, denominadas hexagramas. Como a escrita surgiu muito depois, o I Ching foi fundamental para a medicina chinesa, que ainda hoje é praticada graças a Shen-Nung.Os primeiros paisagistas chineses enxergavam na natureza um campo magnético de onde manam energias. Elas precisavam ser conciliadas, de modo ordenado, na forma de jardins. Esse é o motivo de encontrar pagodes rodeados por espaços verdes complexos, edificados em locais aparentemente inadequados aos olhos do homem ocidental. Nesses jardins, que datam dos Séculos XVI a XI a.C., durante a dinastia Shang, os traços retos — sejam para o plantio de Koelreuterias, Camellias, ou mesmo no desenho de espelhos d’água — eram considerados formas de agressão e de negatividade. Em contrapartida, as ondulações e curvas eram estimuladas, criando jardins sinuosos que forçavam o caminhante a prestar atenção no contorno e, assim, atrair fartura e felicidade. O Feng-Shui captava e redirecionava essas forças, que beneficiavam a vida dos agricultores, muito antes da era cristã, servindo também junto com a geomancia e a radiestesia, para cultivar e transplantar árvores adultas, já no Século V. Mais tarde foi atingida uma tecnologia formidável, durante o reinado de Kublai Khan (1260-1294), usada no seu Boa – Ta (大花园), literalmente o grande jardim, de mais de 13 alqueires, do palácio de verão em Shang-Tu (Xanadu, para nós).
A paixão pela natureza não ficou circunscrita aos jardins, fortemente influenciados pelo Taoísmo, pregado por Lao Tse, que enfatizava a espontaneidade de tudo. A poesia, a pintura em seda, a cerâmica e a escultura, usavam a magnífica e abundante flora chinesa como fonte de inesgotável inspiração.
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